DINHEIRO E CASAMENTO
DINHEIRO E CASAMENTO
Rosa Cukier
Brigas por dinheiro podem acabar com muitos casamentos. Há pesquisas mostrando que os casais brigam mais por dinheiro do que por sexo, mesmo antes de casar.
O dinheiro representa mais do que reais. Ele é frequentemente usado para expressar sentimentos em relacionamentos. É o que acontece, quando damos presentes de maior valor de acordo com a importância afetiva do contemplado.
Pode também servir para expressar amor, poder e respeito. Ou retido para punir, controlar ou humilhar[1]. Por isso prega muitas armadilhas em adultos apaixonados.
“Tudo o que você quer é apenas o meu dinheiro?”
Parece insensato falar de dinheiro no momento em que alguém pensa em se unir, por amor, a outra pessoa. Como se fosse indelicado ou pudesse introduzir a temida dúvida: tudo o que você quer é apenas o meu dinheiro?
Igualmente indelicado quando se discutem sistemas de partilhas de bens, discussão muitas vezes encerrada com a elegante opção: separação total de bens. Esta sim, uma falsa e traiçoeira saída para uma discussão que merece mais respeito.
Colocar o seu futuro financeiro nas mão do parceiro (a) , erro frequente entre mulheres, parece tentador mas é muito arriscado. Seu amado pode adoecer, morrer subitamente ou decidir te deixar, tirando subitamente o pseudo- tapete de segurança debaixo dos teus pés.
Falsas soluções
Inúmeras são as questões e falsas soluções, vejam:
1- O que é meu é meu e o que é seu é seu: isso não resolve os gastos em comuns e cria ressentimentos em quem tem menor poder de compra.
2- Quem tem dívidas e quem não tem, quem poupa e quem gasta. Como viver junto de um cônjuge que gasta se você é um poupador: os temperamentos precisam ser levados em conta.
3- Frequentemente há um jogo de poder quando o ganhador de dinheiro (ou aquele que faz mais dinheiro) quer ditar as prioridades de gastos: parece meio lógico, mas gera ressentimentos impagáveis.
4- Ter ou não ter filhos, e o dinheiro para mantê-los até a vida adulta é outra questão entre casais modernos. Um estudo, realizado desde 2008 pelo Instituto Nacional de Vendas e Trade Marketing e atualizado pela última vez em novembro do ano passado, calculou que filhos de famílias mais abastadas podem custar aos pais entre um milhão e dois milhões de reais, do nascimento aos 23 anos. Números trazidos a valor presente: Luiz Carlos Ewald, professor de finanças dos cursos MBAs da Fundação Getúlio Vargas (FGV), calcula cerca de R$ 1 milhão para a classe media brasileira.
5- Os dilemas da família estendida devem também ser considerados. Um dos cônjuges empresta dinheiro para os irmãos ou pais, o outro se ressente, porque quer poupar para os próprios filhos. Ou ainda um dos avós é mais rico que o outro e proporciona férias e presentes que o outro não pode oferecer: sempre há diferenças e há que se lidar com elas.
SOLUÇÕES
Especialistas em saúde financeira como Vicente Sevilha[2] concordam que a comunicação é a chave para a maioria dos desafios financeiros conjugais.
1- Antes de casar, discutir abertamente a situação financeira com seu parceiro (a) ‒ mencione dívidas, poupança, investimentos, herança, etc.
2- Se você já está casado e nunca conversou sobre esses itens, utilize este artigo como pretexto ‒ inicie um diálogo, sem tardar.
3- Se você já está casado pela segunda ou terceira vez, acrescente outros tópicos ‒ qual dinheiro será compartilhado; que dívidas possui com a outra (s) família, filhos na escola, por quantos anos pais mais velhos que precisam de ajuda financeira, etc.
4- Procure entender o temperamento financeiro do seu parceiro. Ele é um gastador ou um poupador? Qual o estilo financeiro da família original dele? Seus pais viveram em grande estilo ou lutaram muito para conseguir educá-lo? Quais os sonhos e medos em relação a dinheiro ‒ em geral, adultos têm uma forma de tentar se compensar por coisas que não tiveram na infância, às vezes de forma completamente atemporal e ilógica.2
5- Faça um orçamento familiar, por mais maçante que possa parecer ‒ há aplicativos agora que auxiliam nesta questão.
Comunicação
6- Pare de manter segredos. Eles explodem feito bombas no futuro. Uma conversa franca, ainda que tensa agora, previne vários problemas posteriores. Sugiro que cada um comece fazendo sua lista de gastos e poupança e uma lista de perguntas sobre as mesmas questões para o outro ‒ há sites (http://gestorfp.com.br/check-up/2) que oferecem questionários para avaliar o planejamento financeiro, escolham um e respondam os dois, e depois avaliem juntos as respostas.
7- Falar tudo o que se gasta com o esposo (a), pode ser asfixiante e constrangedor. Combinem, como casal, uma certa quantidade de despesas que não têm que compartilhar ‒ um dinheiro virtual para que cada um gaste como quiser, pode ser um bom exemplo.
8- Se você já for casado, fale sobre finanças de vez em quando. Avalie se o que foi decidido anteriormente, em termos de poupança e gastos está sendo mantido, ou se é preciso reavaliar ‒ a vida muda e novas prioridades sempre surgem, convém checar!
9- Use a linguagem na primeira pessoa do singular ao discordar do seu companheiro (a). Por exemplo: eu não acho assim, para mim não fica bom desta forma, etc. Nunca use uma linguagem absoluta ou vexatória, como “você é irresponsável, ou esbanjador”, por exemplo ‒ palavras ferem muito e às vezes levantam mais defesas do que acordos.
10- Peça ajuda, se lutas sobre dinheiro ameaçarem acabar com seu casamento. Existem consultores financeiros, terapeutas financeiros e terapeutas de casal ‒ procure-os! Vale o investimento.
Bibliografia
[1] Madanes, C. (1997.)- O significado secreto do dinheiro. Belo Horizonte: , Editora Livro Pleno, 1997.
2-Meirelles,V.( 2015)- O uso do dinheiro na vida adulta, Editora Salta, São Paulo.