Codependência é um mal tipicamente humano. Alguém disse, brincando, que a diferença entre o homem e os animais não reside tanto no fato dele ser racional mas sim, no fato do homem ter parentes. Talvez por nascer semi-pronto e ter uma longa infância sob os cuidados de alguém que o ajuda a sobreviver, o homem é o animal que se envolve mais longa e profundamente com seus antecessores e sucessores.
Pai, mãe, irmãos e irmãs, avós, sogros, tios e primos……. heis a nossa grande peculiaridade e também a fonte dos nossos maiores problemas!
Este o caso da codependência, um tipo de patologia emocional e vincular, descrita por estudiosos do comportamento humano nos EUA. Os primeiros estudos datam de 1983. Apesar dela ainda não constituir um quadro nosográfico no DSM-IV, existem vários1 livros escritos com este título, inclusive um , já traduzido para o português2.
Primeiramente a descrição deste quadro incluía apenas famílias de pacientes alcoólicos. Mas com o tempo seu significado foi estendido e atualmente o termo codependência também se refere à conduta de familiares e parentes de pessoas que tem algum problema grave e crônico, físico ou emocional.
“ Uma pessoa codependente e aquela que deixa o comportamento de outra pessoa controlar o seu e que fica, por seu turno obcecada em controlar o comportamento desta outra pessoa. “
Tudo começa com o fato de nos encontrarmos ligados (por amor, obrigação ou dever) a alguém muito complicado. Por ser uma pessoa doente física ou emocionalmente, que por conta desta doença se auto-destrói ou desiste de viver e precisa, aparentemente, de nosso apoio e cuidado constante.
Esta pessoa pode ser uma criança que nasceu com um defeito físico. Um adulto deprimido. Uma esposa ou amante anoréxica. Um irmão que não se saiu bem na vida. Uma irmã que sempre se mete em encrencas e parece frágil para resolvê-las. Um pai alcoólatra. Enfim, o importante não é quem esta outra pessoa é, ou qual doença ela tem.
Como somos afetados
O núcleo da questão está em nós mesmos, na forma como deixamos que ela afete nosso comportamento e nas formas como tentamos influir no comportamento dela ou “ajudá-la” . Estou falando, de uma reação à autodestruição do outro que acaba nos destruindo. Tornamo-nos vítimas da doença alheia e, quanto mais nos esforçamos para fazer esta pessoa abandonar o vício ou mudar de postura diante da vida, menos ela melhora e mais arrasados ficamos.
Parece que nossa vida gira em torno dela, não mais agimos por vontade própria mas sim reagimos à forma como o(a) doente está: se está bem ficamos bem, fazemos planos, temos esperança; na hora em que ele(a) volta a beber ou deprimir, suspendamos o cinema, os projetos, nos sentimos uma porcaria.
Sei que muitos de vocês já entenderam do que estou falando porque provavelmente vivem ou atendem pessoas que experienciam situações semelhantes. Talvez o que vocês não saibam é que alguns cientistas consideram este comportamento de ajuda crônica ao outro, em si mesmo, uma doença emocional, grave e progressiva. Dizem até que o codependente quer e procura pessoas complicadas para se ligar, só podendo ser feliz desta forma.
Eu não penso exatamente assim, pois muitos codependentes que atendi eram pessoas cansadas de sofrer e que queriam sinceramente mudar, mas seja por educação, religião, culpas variadas e… cada caso um caso , não conseguiam se desligar.
Características
Algumas características comuns aos codependentes me chamam muito a atenção:
são em geral pessoas de natureza benevolente, vieram de famílias emocionalmente perturbadas e desde a infância quiseram consertar as coisas que estavam erradas; tem uma tendência a se responsabilizar e culpar por tudo; são muito dependentes do amor, do elogio, da avaliação do outro;
acham que sabem melhor e que aguentam mais do que os outros determinadas situações; mentem para si mesmos dizendo que “as coisas estarão melhores amanhã”; ” esta foi a última vez “…;
tem dúvidas se serão felizes no futuro ou se algum dia encontrarão o verdadeiro amor; sentem dificuldades de estar perto de pessoas , se divertir e ser espontâneo;
alternam um cuidado super-carinhoso para com a pessoa doente e formas agressivas e grosseiras de lidar com ela;
vão se sentindo com o passar dos anos cada vez mais infelizes, deprimidos, isolados, violentos; tem desordens de alimentação ( ou comem muito ou pouco); acabam tendo algum tipo de adição: cigarro, álcool, calmantes, etc.
Esta doença de forma genérica está associada à várias formas de abuso infantil e os codependentes têm dificuldades basicamente em cinco áreas: 1- baixa auto-estima;2- dificuldade de colocação de limites; 3- dificuldades em reconhecer e assumir sua própria realidade; 4- dificuldades de tomar conta de suas necessidades adultas; 5- dificuldade de expressar suas emoções de forma moderada.
Tem cura?
Será que a codependência tem cura? Não há uma resposta simples a esta questão. Nos EUA formaram-se grupos de auto-ajuda, como por exemplo os grupos para famílias de alcoólicos anônimos, onde se procura discutir e dar apoio aos codependentes.
Minha própria experiência mostra que a psicoterapia , especialmente o psicodrama por ser uma abordagem que privilegia o estudo dos vínculos , costuma ser muito útil nos casos onde o codependente se encontra desiludido da própria potência para mudar a vida do outro e começa, realmente, a querer mudar a própria vida. O tratamento auxilia e encoraja o paciente a empreender as mudanças necessárias , a se confrontar com seu passado abusivo e se reposicionar diante do parente doente , afim de retomar uma forma mais saudável de viver, ainda que o parente continue querendo morrer.
Bibliografia
Beattie,Mellody ( 1994) – Codependência nunca mais! – Editora Best Sellers, São Paulo.
Rosa (1998)- Sobrevivência Emocional: as feridas da infância revividas no drama adulto, Editora Ágora, S.Paulo.
Cermak,T.L (1986) .- Diagnostic criteria for Codependency– Journal Of Psychoatctive Drugs. 18(1):15-20 citado por Mellody , Pia.- Facing Codependence, Harper & Row, Publishers, San Francisco ,1989.
Mellody , Pia ( 1989)- Facing Codependence, Harper & Row, Publishers, San Francisco ,
Estarei realizando um Workshop, aqui em São Paulo, na quarta feira, 25 de novembro, das 19:oo às 23:00.
O Psicodrama Bipessoal é uma forma extremamente eficiente de terapia emocional. No entanto, demanda certas adaptações técnicas que lhe permitam utilizar a dramatização, sem o auxílio de egos auxiliares e dentro do espaço de tempo de 50 a 60 minutos, usual nas terapias individuais.
Através de jogos, exercícios dramáticos e explicações teóricas, pretendo auxiliar os alunos a:
1. auxiliar o cliente a escolher, focar e aprofundar um tema;
2. utilizar uma clássica montagem de cena para iniciar uma dramatização;
3. utilizar a inversão de papéis e o jogo de papeis, bem como todas as técnicas clássicas de psicodrama> isto busca propiciar uma conexão com cenas regressivas ou uma resolução, no presente , do conflito apresentado;
4. Adentrar uma cena regressiva especificando: quais emoções e necessidades infantis atuaram na construção das defesas utilizadas. Qual a função destas defesas na lógica infantil, sua pertinência e utilidade na vida adulta. Como reparar danos antigos, quais necessidades infantis devem ser atendidas afim de que o paciente retome um funcionamento emocional eficiente em sua vida adulta;
5. Terminar uma sessão aos 50-60 minutos, utilizando tarefas estratégicas para manter o aquecimento e a continuidade do trabalho na sessão seguinte.
Metodologia: utilizarei jogos dramáticos, role-playing, e data-show para expor material teórico.
Adam Blatner, PHD. Médico psiquiatra Americano, atualmente aposentado, desenvolveu sua prática clínica e psicodramática em Palo Alto na Califórnia . Atualmente no Texas. Autor de vários livros: “ Acting-In”;”Foundations of Psychodrama”; The Art of Play: Helping adults reclaim imagination and spontaneity””. No Brasil a Editora Ágora publicou em 1996 “Uma visão Global do Psicodrama”. Possui um site na internet com vários artigos interessantes, dentre os quais este aqui publicado. http://www.blatner.com
(Traduzido por Rosa Cukier em 26 de junho de 2002)
A raiva é uma emoção natural e assinala a necessidade de mudança no meio circundante. No entanto, é possível e em geral desejável expressar a raiva de forma moderada, e quem aprende a fazê-lo mostra maturidade.
A representação de papéis é um recurso excelente para adquirir essa aptidão, pois cada grau de raiva implica um conjunto diferente não só de comportamentos, mas também de expectativas. Faz sentido, então, analisar a diversidade de papéis que se adaptam aos diferentes graus de ira.
Sete graus de raiva
Raiva não manifestada
O primeiro grau, que ganhou o número zero (“0”), diz respeito a sentir raiva, consciente ou inconscientemente, mas não manifestá-la. Às vezes o indivíduo sabe que está irritado. Ou talvez até muito irado, mas não consegue admitir isso nem mesmo para um amigo e quase sempre nem para si mesmo. Há um número grande de pessoas que aprenderam ainda na infância a reprimir a raiva, de modo que nem sabem que a sentem. Elas precisam reaprender a se tornar sensíveis aos indícios do corpo e aos sentimentos sutis.
Quando não é expressada verbalmente a raiva costuma procurar outras maneiras de se manifestar, geralmente na forma de sintomas psicossomáticos, expressando-se inconscientemente por agressividade passiva, transferência para outros etc.
Agora, convenhamos: em muitas ocasiões a manifestação direta de raiva é politicamente desaconselhável. Mas pelo menos o indivíduo pode perceber com clareza os seus sentimentos e decidir como lidar com eles, ou conversar a respeito com um bom amigo. Isso é válido como forma de expressão sadia.
Sinais sutis
O segundo grau, com o número um meio (“0,5”), retrata um papel diferente. Aí a pessoa expressa a raiva, mas de um modo claramente ineficaz, desanimado e indireto. A expectativa nesse papel é de que as outras pessoas percebam – ou “deveriam” perceber – essas pistas sutis e mudem de atitude, ou entendam o recado de alguma forma.
Na verdade, em algumas subculturas, todos aprendem essas mensagens sutis e parecem ser capazes de fazer acertos com os outros sem nem precisar ser explícitos. A intenção é, em parte, não incomodar o outro. O problema é que, nesta época de mistura de culturas, muito provavelmente encontraremos pessoas que não aprenderam a ser sensíveis às mensagens sutis. Além disso, há pessoas com um temperamento que é, digamos, um pouco mais impenetrável. Elas têm grande dificuldade de perceber manifestações indiretas. Não há por que culpá-las – elas não podem fazer muito para corrigir o problema. O imprescindível é aprender a se comunicar com mais clareza, ser mais direto, mas sem reprovação – o grau acima, a seguir.
Deixando clara a raiva
O grau um (“1”) é o terceiro estágio, mas ganhou o valor 1 por ser um recado claro. É um papel que muitos não aprenderam: apenas dizer o que querem sem culpar ninguém. Chamo-o de papel porque exige certa habilidade para ser representado. A maioria costuma acrescentar uma ponta de raiva, uma carranca ou, na outra direção, um aborrecimento. Quer dizer, tendem a adotar um grau 3 ou um grau 0,5.
O ponto importante que se deve reconhecer é que as pessoas civilizadas em geral reagem conforme o esperado a uma afirmação de grau um. Caso não estejam prestando atenção ou estejam distraídas ou absortas no que faziam, basta repetir a afirmação de grau um.
Ficar ainda mais irado quando a outra pessoa está com boas intenções, mas não notou o seu incômodo, só vai magoá-la. Isso transmite o seu juízo de que ela não é sensata nem bem-intencionada. Esse detalhe é muito importante!
Os graus intermediários
Grau dois (“2”): digamos agora que a outra pessoa não reagiu a um recado direto, mesmo depois de repetido. Então você aumenta um pouco o tom de voz e seu rosto passa de um sorriso gentil para uma expressão um pouco mais dura – mas, interessante notar, não uma cara fechada. Você repete a sua afirmação – em geral na forma de pedido claro ou advertência.
Uma vez mais, a maioria dos que não perceberam a sua irritação no grau 1, atenderá a um grau 2. E é o que você deve esperar que façam. Em geral, as pessoas querem ser cooperativas e realmente se importam com os seus sentimentos, desde que consigam entender claramente o recado de que você está incomodado.
Dominar habilidade
Aprender a dominar esse papel é a habilidade mais importante: o ponto central, aqui, é evitar uma reprovação excessiva. É melhor não insinuar que você ficou guardando a raiva, ou que é tarde demais para fazer o que você pediu, ou que o outro te ofendeu e você nunca o perdoará nem voltará a respeitá-lo. Mais exatamente, o papel do grau 2 é comunicar que, se a pessoa parar de fazer o que incomoda ou mudar um comportamento, tudo ficará bem. Permanece uma tendência oculta de supor que a outra pessoa é legal, atenciosa, mas talvez não tenha entendido o recado anterior de que aquilo é importante para você.
Para desempenhar bem o grau 2, você precisa saber, por um lado, que pode recuar tranquilamente para o grau 1 ou adotar um comportamento brando. E por outro lado, que pode também passar ao grau seguinte, se for necessário.
Ficar bravo
O grau três (“3”) é outro papel importante: agora você está bravo. Não está muito bravo (4) nem descontrolado (5), mas está claramente irritado. Uma nova dimensão entra em pauta: não é só que você está incomodado com o comportamento, mas que a irritação se compõe de uma ponta de mágoa e indignação porque a pessoa parece não se importar com o fato de você estar incomodado! Entra em cena, então, o problema do relacionamento.
Este papel pode usar apropriadamente uma cara feia, bem como um tom de voz sério, intenso e , até, uma afirmação como: “Agora fiquei zangado”. Começe também a insinuar uma ameaça, a mensagem simples de que, se o outro não mudar de atitude, você vai reagir tomando alguma medida. É necessária uma boa dose de maturidade e discernimento para desempenhar este papel, porque se deve medir cada resposta para que seja coerente com o tipo de relacionamento, a posição e a consciência do ofensor, o contexto etc.
Limites
O grau quatro (“4”) (o sexto grau mencionado) é o próximo passo da escala. Ele é usado principalmente com crianças que estão “testando os limites”. Elas querem ver o que você, como pai ou professor, vai fazer em razão da sua raiva. As crianças não sabem o que significa um pai irado e precisam descobrir o que é sem se traumatizarem.
No grau 4, sua voz está ainda mais alta. Você se aproxima um pouco do rosto da criança, sua expressão facial é de fúria – para lá de séria – e, você pode até gritar. Com crianças mais novas, você pode erguê-las no ar – não as sacuda – e pode coloca-las, com firmeza , num sofá ou lugar macio. O importante é fazê-las sentir o seu poder. Elas talvez tenham um surto de ansiedade. No entanto, aí não se impõe nenhuma dor física, nem se dizem palavras que humilhem, insultem ou magoem.
As crianças precisam adquirir a capacidade de sentir uma quantidade pequena – digamos, em torno de 8% – de medo, culpa e vergonha. Não 20% ou mais – o limite para o trauma. Mas uma quantidade pequena. Isso as torna civilizadas, forma nelas uma consciência sadia. Com menos do que isso, elas ficam mimadas, arrogantes e um pouco antissociais. Portanto, as crianças precisam sentir as consequências da sua experimentação natural com os limites sociais – precisam sentir-se amedrontadas com o que fizeram e com o resultado.
Escalada gradativa
Algumas crianças precisam passar por esse processo de escalada gradativa – não muito gradativa, mas um passo a cada advertência – talvez várias vezes por ano. Com crianças de temperamento mais sensível, pode ser suficiente uma reação menos intensa para que elas testem menos, ao passo que, com as mais teimosas, você pode ir até o grau 4.
É importante os pais saberem que não há problema em chegar ao 3 ou 4 – isso não os faz parecer nem ruins nem terríveis demais para os filhos. Se estes foram mimados ou tratados com muita brutalidade, terão dificuldade em conhecer esses graus intermediários. Aprender a lidar com a raiva será um componente importante do treinamento de papéis na terapia deles.
Com relação aos adultos, a melhor atitude no grau 4 é sair de perto, deixar para lá, acalmar-se. Depois, trabalha-se nos graus 2 e 3, nos moldes de uma negociação. Você pergunta: “Espere aí, eu preciso saber: você se importa com o que eu sinto nessa questão?” Você se reporta diretamente ao problema no relacionamento – seja qual for o comportamento que tenha dado início a tudo.
Perdendo a paciência
O sétimo grau é o cinco (“5”) e diz respeito ao papel da raiva. Você talvez já esteja gritando, e a violência às vezes é uma reação apropriada caso seja necessário se defender fisicamente. Foram ministrados cursos para mulheres a fim de ensiná-las a reagir com um contra-ataque do grau 5 se forem agredidas. Nesta ocasião precisam “usar de todas as armas”.
No entanto, um comportamento civilizado, em família ou em qualquer situação em que você espere ser capaz de preservar o relacionamento com a outra pessoa, o grau 5 é inaceitável. Ceder à raiva é “perder as estribeiras”.
O ponto principal de todo esse exercício é ajudar as pessoas a não mais perderem a paciência. A nunca chegarem a um 5 em ambientes civilizados. Se você sabe que consegue desempenhar os papéis intermediários da raiva e adquire a confiança de que eles funcionam para acertar as situações quando necessário, então você não precisa se descontrolar.
A raiva implica bater, atirar objetos, ameaçar as pessoas com violência e usar de violência verbal. Ou seja, dizer coisas que realmente magoam. Eticamente, é ruim. Digo isso porque existem pessoas que ainda se justificam a respeito do conceito de raiva – que, “se você me deixar com raiva, fico com raiva de verdade”. Esses “raivosos” são egocêntricos e imaturos.
Sempre no limite
Há pessoas que talvez nunca tenham conhecido a raiva mediana, , gente que foi criada em situações nas quais a raiva era ou 0 ou 5 – nenhuma intermediária. A televisão contribui muito pouco para a formação dos indivíduos. Nela, a raiva se manifesta por um comportamento intimidador e ameaçador, violência flagrante e, quando verbal, na forma de sarcasmo, afronta feia, resposta irritada. Você nunca ouve dizerem: “Sabe, isso está me incomodando, mas eu gostaria também de ver pelo seu lado”.
Há também outro tipo de pessoa que perde a paciência e depois se sente muito mal – são aquelas pessoas que não aprenderam a passar de um 0 ou 0,5 e sentir-se bem. Qualquer coisa mais direta parece “além da conta”, então elas tendem a represar até irromper num comportamento que é mesmo além da conta, o qual comprova para elas mesmas que qualquer tipo de raiva é opressivo. Na verdade, porém, essas pessoas não conhecem os graus intermediários.
É importante ajudar as pessoas a não se sentirem bem quando perdem a paciência. Sempre recorro à analogia de perder o controle dos intestinos – é o que ocorre com criancinhas. Crescer significa aprender a ter controle tanto da raiva quanto das fezes. Mas eu me apresso em observar que também é importante fazer os intestinos funcionarem. É essencial para a saúde e a vida! Mas o que faz enorme diferença é onde eles funcionam e como funcionam. A ênfase é na ideia de que a alternativa não é apenas reprimir a raiva. Mas sim o fato de que há modos satisfatórios e eficazes de exprimi-la – os graus intermediários. (Muita gente, infelizmente, nunca soube que existem graus intermediários ou que é certo usá-los.)
Avançando aos poucos
O importante é não pular os graus. Não ir do 0,5 para o 3, nem mesmo do 1 para o 3, muito menos do 2 para o 4. A questão aí é que você quer sempre transmitir à outra pessoa que espera dela o melhor. Espera que, se ela perceba claramente que você está incomodado, se disponha a se reconciliar com você – porque, na verdade, geralmente é o que acontece.
Por outro lado, você não quer parecer um fraco e ficar repetindo que está chateado e quer que as coisas mudem. Se a outra pessoa não lhe der ouvidos, passe para o grau seguinte. Ou então o meio grau seguinte. Mas continue subindo; senão, será contra-produtivo e te prejudicará.. Essa abordagem da raiva é uma estratégia calculada para tratar do seu desconforto de modo que você não acabe nem reprimindo a irritação, nem estourando.
Com prática e maturidade, você verá que às vezes é bom equilibrar os comportamentos adquiridos que se encontram em meio aos graus intermediários. Faz parte do aprendizado de habilidades sociais mais requintadas. Também é bom adquirir aptidões para solucionar problemas e conflitos. Por exemplo: aprender a inverter papéis para obter empatia, a prender a se justificar, a recuar e dar espaço à outra pessoa, etc. Cada um desses itens poderia constituir outro capítulo.
Vale a pena repetir, entretanto, que no grau 3 ou 4 você deve avaliar as suas reações para que sejam coerentes com a realidade da situação. Não existe uma fórmula infalível para o modo de se comportar, para o modo de sentir raiva. O conhecimento dos vários graus e um pouco de prática com eles são ótimos recursos para o seu repertório de papéis.
Resumo
Você pode aprender a usar a raiva construtivamente praticando uma versão do treinamento de papéis. Pensando nos diferentes graus de raiva como papéis diferentes que você associa e exercita a fim de conseguir a solução desejada para uma situação incômoda.
MODERAÇÃO — Todo mundo fica um pouco maluco em relacionamentos, mas um casal precisa se revezar. Não podem ficar malucos ao mesmo tempo. Se o seu parceiro (a) ficar furioso não fique também . Fique moderado. Como uma gangorra, se um sobe muito o outro faz força para voltar no meio.
LINGUAGEM NA 10PESSOA DO SINGULAR– Não fale do outro. Não acuse. Deixe de ser o dono da verdade. A realidade objetiva não tem lugar em relações íntimas e pessoais. A resposta relacional para a pergunta: quem está certo e quem está errado? é, quem se importa? Deixe de ser a voz da autoridade e fale sobre a sua experiência subjetiva — isto é como eu me sinto; isto é o que eu me lembro; isto é o que eu imagino — Um pouco de humildade faz maravilhas.
ELOGIE – A maioria dos casais modernos são pouco confirmadores das qualidades do outro. pare um pouco de pensar sobre o que há de errado com o seu parceiro e preste atenção no que está certo. “eu gosto quando você ajuda na lição de casa das crianças.” “obrigada, por ter me escrito esta tarde” “você tem olhos lindos.” Experimente um pouco de feedback positivo .Você pode obter algum de volta!
PARE, PAUSE A DISCUSSÃO – Quando vocês estiverem discutindo um tema difícil ou estiverem muito nervosos, parem, respirem, peçam um tempo de 20 minutos. Lembre-se : seu marido ( sua esposa) é a pessoa mais importante do mundo na sua vida, merece que você elabore com carinho e não vomite sua raiva em cima dela.
Pais, mães, maridos e esposas abusadores frequentemente argumentam que suas atitudes são para o próprio bem da criança ou da pessoa que estão abusando. Falam a frase “é para o seu próprio bem”, alegando que no futuro, elas irão lhe agradecer por terem sido cruéis nas suas atitudes atuais.
Pois bem o futuro não está aqui e bom e ruim são conceitos subjetivos , usados a bel prazer de quem os diz.
Podemos nos proteger de um veneno se este for claramente identificado. Mas se ele for embrulhado em chocolate, disfarçado em falas sedutoras como “é para o próprio bem “, fica muito difícil discriminar. Sobretudo se você é criança, dependente dos adultos em questão, ou mesmo se é uma mulher adulta, mas presa num relacionamento abusivo.
Métodos cruéis do passado
Métodos educativos cruéis e venenosos foram usados pelos pais dos maiores tiranos da humanidade. A geração alemã a que Hitler pertencia, por exemplo foi educada com correção física brutal e humilhação. Mais tarde extravasou seus sentimentos reprimidos de raiva e impotência em vítimas inocentes.
Cada ditador atormenta seu povo, da mesma forma que ele foi atormentado quando criança. O pai de Adolf Hitler, mesmo vítima de estigma social por ser filho ilegítimo, dava vazão a seu ressentimento. O progenitor agia reprimido em seu filho Adolf sob a forma de, flagelações impiedosas regulares.
Stalin foi exposto a imensa brutalidade em criança. Seu pai irascível e bêbado batia e humilhava o filho desde cedo. Stalin , por sua vez , era paranoico, com mania de perseguição. Isso o levou a ordenar a morte de milhões de pessoas inocentes.
Mao era o filho de um professor muito rígido, que tentou instilar obediência e sabedoria nele por meio de correção física severa. Mais tarde Mao, com a “melhor das intenções”, impôs métodos educativos ao seu povo que fizeram 35 milhões de vítimas em seu país.
Os exemplos são infindáveis. Crianças submetidas na infância através de métodos cruéis, tendem repetir ativamente quando adultos, esta crueldade na vida pessoal e profissional.
O que é para o meu próprio bem, soa bom desde o início. Costumo pedir aos meus pacientes que façam um pequeno cafuné no dorso de suas mãos e pergunto-lhes se dói. Digo-lhes que esta é a sensação boa. Então tudo que vier com gosto amargo, brutalidade, sincericídio (matar com a verdade) é venenoso e deve ser expelido.
ABUSO EMOCIONAL INFANTIL – resulta de uma confusão de fronteiras dentro da família e a uma reversão da ordem da natureza. Acontece quando são as crianças que cuidam de seus pais e não o contrário.
Não é só o caso de filhos de alcoólatras, depressivos graves, etc. Ele ocorre na maior parte das famílias ditas “normais”. Uma ou mais crianças da família são especialmente estimuladas para serem as auxiliares da mamãe ou do papai. Isso acontece muitas vezes porque este adulto que pede ajuda é , ele mesmo, frágil e não consegue se defender de alguma situação abusiva intrafamiliar.
A criança assume este papel especial não porque realmente queira. Ela se encarrega dessa função para ajudar os pais de quem depende e/ou para assegurar o seu amor que pode ser perdido se contrariá-los. Em resumo, para evitar a solidão e o abandono.
Paradoxalmente, esta criança eficientemente adulta, acaba possuindo dentro de si uma criança abandonada e magoada, pois enquanto cuidava tão bem dos pais, suas próprias necessidades infantis não foram satisfeitas nem respeitadas.
Outra forma de abuso emocional é desrespeitar a vontade da criança, impondo-lhe o desejo dos pais e não levando o dela em consideração. Por exemplo, fazer a criança comer o que não quer, vestir a roupa que odeia, etc.
Falar sobre temas dolorosos com os filhos é sempre muito difícil para os pais. Queremos protegê-los da dor e evitar que se frustrem ao máximo. Como fazer quando o assunto é divórcio e não podemos poupá-los ou esconder, ou evitar que percebam nossa própria dor?
Para as crianças, o divórcio pode ser estressante, triste e confuso. Em qualquer idade, elas podem se sentir assustadas, irritadas, tristes , preocupadas com a perspectiva da separação dos pais . A melhor forma de ajuda-los é atentar para as principais necessidades das crianças nestas situações:
Estratégias
1- Consiga , a qualquer custo, um acordo com seu ex –marido sobre quando e como falar com as crianças. Garanta que nesta conversa sejam passadas as seguintes mensagens:
• Nós dois te amamos e continuaremos te cuidando e amando;
• Nossos problemas tem a ver apenas conosco. Adultos às vezes não concordam com a forma como veem as coisas então tem que viver separados;
• Crianças e pais não se separam , estão amarrados para o resto da vida. Só o pai e a mãe que se separam;
• Nada do que você fez causou nossa separação. Foi uma decisão nossa. E nada do que você possa fazer nos fará mudar de ideia. Cuida da sua vidinha apenas e te ajudaremos em tudo;
• Sua vida mudará um pouco, haverá dias em que vocês estarão mais com mamãe e outros mais com o papai. ( Reflitam no sistema de guarda das crianças, e expliquem da forma mais clara possível, façam um desenho ou esquema se precisar);
• Garanta estabilidades das rotinas em casa: horários, escolas, vida social das crianças ;
• Tenha paciência, confiança, e saiba escutar as dúvidas que as crianças terão. Não force conversas por ansiedade., mas não as evite por dor. As crianças não perguntam se sentem que os pais irão sofrer com as respostas. Dê tempo ao tempo. Garanta a normalidade em casa e deixe que as perguntas virão quando ambos, você e seus filhos estiverem preparados;
• Fique sintonizado ( a) para responder apropriadamente. O que cria trauma é a sensação de isolamento;
• Com as crianças mais jovens, é melhor falar bem simples. Você pode dizer algo como: “Mamãe e papai vão viver em casas diferentes, mas nós dois te amamos muito”;
• Crianças e adolescentes mais velhos podem estar mais em sintonia com o que os pais foram passando, e pode ter mais perguntas com base no que eles já ouviram de conversas anteriores. Falem a verdade , mas sem detalhes culpógenos ou vexatórios e sem expor a intimidade sexual do casal.
A maior parte dos estudos sobre a inveja foca sua observação na pessoa que sente a inveja. Ser invejado ou fazer-se invejar é pouco estudado. Possuir atributos, facilidades na vida, estar em posição de destaque causa sensações variadas, desde a sensação de poder até culpa, desconforto e medo de que algo ruim esteja para acontecer.
Os gregos, segundo Helmut Shoeck (1987: p.141-152) mencionam em vários mitos a inveja dos Deuses. Tratam como se houvesse uma justiça divina na distribuição dos bens com garantida punição para quem ousar ultrapassar os limites. Nesta mesma linha de raciocínio, vemos a ideia de que o prazer é proibido em muitas religiões. Ou ao menos tachado com o dízimo que se encarrega da justiça redistributiva.
Nossa sociedade
Vivemos numa sociedade capitalista, onde o consumo é estimulado por um marketing agressivo que usa e abusa da comparação entre pessoas. por conta disso, estamos o tempo todo sendo instigados a invejar algo. Invejamos o carro, saborosamente oferecido na televisão por uma pessoa mais bonita ainda que o carro, que veste roupas e acessórios, mais bonitos do que ela e o carro. Além de tudo está sendo fotografada num lugar paradisíaco, muito melhor que o carro, o modelo, as roupas e os acessórios.
Ser alvo da inveja alheia confere um status de poder, e um reasseguramento do próprio valor. Predispõe também a receber atos agressivos, diretos ou indiretos, tipo desvalorização moral, fofocas, sabotagem, etc. e uma desconfortável sensação de culpa, por ser a causa involuntária do sofrimento alheio.
Propaganda
Assim como o consumidor, alvo da propaganda exemplificada acima, quando somos comparados com pessoas que tem atributos superiores aos nossos, sentimos uma agressão em nossa auto-estima, o que demanda uma ação de retaliação para recuperar nosso valor. Fazer-se invejar pode ser um ato agressivo, pois a inveja é uma emoção social, e afeta não apenas indivíduos isolados, mas grupos.
George Foster (1972) sugere que há dois parâmetros para analisar a inveja: do ponto de vista competitivo é útil ser invejado; já do ponto de vista do medo de ser retaliado, é mais seguro passar despercebido e esconder suas qualidades.
Estratégias de relacionamento
Ser invejado e lidar com a inveja dos outros é uma tarefa complexa. Os estudos em psicologia social e sociologia sugerem algumas estratégias comumente utilizadas para se relacionar com pessoas invejosas:
Minimizar nossas próprias qualidades;
Valorizar o esforço que tivemos que fazer para conseguir tais qualidades;
Elogiar a pessoa que nos inveja tentando salientar qualidades nela;
Ajudar quem nos inveja, tentando dar a ela algo de bom;
Esconder nossas qualidades sob uma pretensa humildade, modéstia.
Socializar nossos ganhos egóicos, mostrando como nossas qualidades ajudam outras pessoas, etc.
Ser invejado enfim, é uma posição existencial ambígua. Ao mesmo tempo em que representa uma forma solitária de reasseguramento, mais-valia, pode acabar gerando um isolamento relacional, uma carência de pares simétricos com quem compartilhar as alegrias.
Dores étnicas e lutos culturais , tais como, assassinato de líderes amados, catástrofes naturais que redundam em elevado número de mortes, domínio, aprisionamento e humilhação de um grupo étnico por outro, etc. Também demandam um processo de luto e elaboração sob pena de se tornarem perenes, caso este procedimento não seja levado a efeito com sucesso.
A cultura comunica sua dor de formas peculiares. Usa, por exemplo, os meios de comunicação de massa para reportar o ocorrido ou criar anedotas como forma de elaborar a tragédia. Executa ritos culturais para comemorar os aniversários destes eventos traumáticos. Constrói, frequentemente, monumentos de pedra e metal resistente para simbolizar a força com que determinados fatos jamais serão esquecidos.
Moreno, em muitos de seu escritos , menciona a pretensão de tratar a humanidade. A autora, partindo da descrição dos inúmeros conflitos étnicos existentes no mundo moderno. Ela advoga a necessidade de se pensar num trabalho terapêutico, quiçá utilizando o psicodrama, que trabalhe as “emoções grupais”. O orgulho de um povo, quando ofendido, busca incessantemente um ato de vingança que restitua a dignidade perdida, perpetuando multigeracionalmente os ódios de outrora. “Narcisismo grupal, luto e reparação enquanto mecanismo de massa, são alguns dos conceitos discutidos ao longo deste texto.
Gostei muito deste artigo de Cíntia Marcucci. Ela discute o tema morte e crianças, chamando atenção sobre como se deve falar a respeito desse tema. A questão morte, muitas vezes é dolorosa e complicada para os pequenos. É ter cuidado asfalar de morte com as crianças sem banalizar o tema, criar mentiras ou tratar as crianças como bobas. Leiam vale a pena!
A autora mostra como é difícil os pais serem apropriados e darem informações difíceis como morte de pessoas queridas, de forma adequada para cada idade infantil. Esconder estas informações entretanto é pior, porque desde pequenos as crianças são capazes de perceber que algo errado ou ruim está acontecendo.